Porque no meu tempo era diferente: o professor era respeitado, os alunos aplicados, a tabuada sabida de cor, as respostas dos questionários na ponta da língua… É o desabafo frequente de professores e pais. Mas afinal, o que havia de tão distinto na educação “daquele tempo”? Seriam salários mais justos, maior valorização profissional, ou talvez uma cultura que hoje sentimos ter se perdido?
Os resultados das avaliações atuais (ENAD, SAEB, Prova Brasil, PISA, entre outras) soam preocupantes, para não dizer desastrosos. E, diante deles, o professor muitas vezes se vê culpado — ou é levado a sentir-se assim. O educador de hoje aparece adoecido, fragilizado em sua autoridade e, não raro, solitário em sua missão.
Quando penso na escola de ontem, lembro de minha mãe, Paulina, e de seus primeiros anos como professora. Em seu livro Minhas Memórias, ela registrou lembranças que me fazem refletir sobre a educação do presente. Contava que, em São Marcos (RS), diante do apelo dos pais para reabrir a escola rural, o subintendente foi categórico: “Procurem alguém competente e me tragam o nome; eu nomeio imediatamente.” Foi assim que, com apenas 15 anos, Paulina foi indicada pelas irmãs do colégio e se tornou professora.
As dificuldades eram imensas: escola na roça, sem livros, sem apoio pedagógico e sem qualquer formação específica. Seu maior sonho era possuir um dicionário. Para realizá-lo, trançava palha de trigo à noite, durante um inverno inteiro. Quando finalmente juntou o dinheiro e comprou o tão esperado livro, sentiu-se rica e realizada.
Manter a autoridade também não era simples. Paulina recordava: “Quando os alunos não queriam ficar na escola, procuravam urtigas e, ao urtigarem minhas pernas, eu era obrigada a correr…” No início, a jovem professora se assustou, mas logo decidiu: correr como a anterior, nunca! Recorreu, então, a uma estratégia que chamou de “psicologia infalível”: uma vara de marmelo, fina e comprida, não para castigar, mas para impor respeito. E conseguiu — com firmeza, mas também com amor — conquistar seus alunos. Tanto que, anos depois, a comunidade reuniu-se para dar novo nome à escola e escolher sua madrinha. Recebeu então um cartão de prata com a inscrição: “Paulina Soldatelli, nossa primeira professora e agora madrinha.”
Hoje, não precisamos trabalhar noites inteiras para comprar um dicionário, nem enfrentar longos trajetos a cavalo, tampouco esperar seis meses para receber salário. Temos oportunidades de formação e condições materiais antes impensáveis. O que nos falta, então? O exemplo de Paulina nos lembra que autoridade não se constrói com “vara de marmelo”, mas com competência profissional, dedicação e amor pelos educandos. Os tempos mudaram, mas os valores essenciais permanecem — e deles não podemos abrir mão.